Quando chega o segundo filho: nasce outra mãe
- Marcella Féres
- há 5 dias
- 3 min de leitura
A chegada do segundo filho traz uma mistura de emoções e marca o nascimento de uma nova versão da mãe. Neste relato sensível, a psicanalista, terapeuta de família e educadora parental Marcella Féres compartilha sua vivência e reflexões sobre culpa, amor, divisão de atenção e a potência da maternidade que se reinventa.

A ambiguidade da chegada
A chegada do segundo filho costuma ser envolta por sentimentos ambíguos. De um lado, a alegria da expansão da família. De outro, um turbilhão interno difícil de nomear: medo, culpa, insegurança. “Será que vou amar do mesmo jeito?”, “Como vou me dividir entre os dois?”, “Será que estou pronta de novo?”
Essas perguntas não aparecem por falta de amor, mas justamente porque o amor já existe. Porque a mãe já conhece, na pele, o peso e a delícia do vínculo. Já experimentou o esgotamento e o encantamento que se entrelaçam no cotidiano com um bebê. Já sabe o quanto é profundo o impacto da maternidade no corpo, na mente, na rotina e nos afetos.
Minha vivência: o medo e a culpa
Falo disso também a partir da minha própria vivência. Quando engravidei da Anaclara, em 2017, esse medo bateu forte em mim. Depois de ser mãe do Emannuel durante nove anos, com um amor tão intenso e exclusivo, eu me perguntava: será que vou conseguir amar outro filho com a mesma entrega? Será que vou saber respeitar o espaço desse novo ser que chega? E, principalmente, será que vou saber me dividir? Ou melhor, me multiplicar?
Quando a Anaclara nasceu, junto com a alegria imensa, veio também a culpa. A culpa por não ter mais aquele tempo todo só para o Emannuel. A culpa de ter que me repartir entre dois filhos, quando por tanto tempo ele foi o centro de tudo. Era um novo capítulo, e eu também estava me descobrindo de novo.
O amor se multiplica
Hoje, com Emannuel aos 16 e Anaclara aos 7, olho para trás e vejo o quanto o amor realmente se multiplica. Mas isso não acontece de forma mágica. A gente aprende, na prática e no tropeço, a expandir o coração. E, principalmente, aprende que para cuidar bem é preciso também ser cuidada.
Mães também precisam ser lembradas
Mães que são vistas, ouvidas e acolhidas têm mais espaço interno para amar. O amor não se divide, ele se expande. Mas essa expansão exige que a mulher que materna também seja lembrada. Que alguém pergunte como ela está. Que ela possa ter seus sentimentos legitimados, sem pressa, sem julgamento.
Uma nova versão da maternidade
A segunda maternidade não é uma repetição da primeira. É uma nova versão de nós mesmas. É outra história, com outro bebê e outra mulher. E tudo bem se, no início, o coração parecer confuso. Aos poucos, ele encontra seu novo ritmo. E nesse ritmo cabe mais de um amor, mais de um filho, mais de uma versão da mãe que a gente se torna.
O cuidado que transborda
Porque amar dois filhos é possível, sim. Não porque a gente dá conta de se dividir perfeitamente, mas porque aprende a se multiplicar com verdade e afeto. E quando a mãe é cuidada, o cuidado transborda para toda a casa.
E você, como viveu ou imagina viver a chegada de um segundo filho?

Por Marcella Féres – Psicanalista, terapeuta de família e educadora parental
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